SOBRE A ACADEMIA DO BACALHAU DE JOANESBURGO
Sobre a Academia Mae

HISTÓRIA

A Academia do Bacalhau é uma velha amizade lusófona, criada há 43 anos em Johanesburgo, com emigrantes portugueses, radicados na África do Sul.

A ideia de se criar a Academia do Bacalhau surgiu num jantar oferecido ao jornalista de "O Primeiro de Janeiro" do Porto, Manuel Dias, que na altura estava de visita à África do Sul e que teve lugar no "Hotel Moulin Rouge", em Hillbrow - Joanesburgo, durante Março de 1968.

Estiveram presentes a esse jantar, além daquele jornalista, o Engº José Ataíde (já falecido e que ao tempo era Administrador-Delegado da Sonarep - Africa do Sul), Ivo Cordeiro (recentemente falecido), Rui Pericão e o Doutor Durval Marques.

Depois desse jantar, realizaram-se algumas reuniões entre os quatro, para se estabelecerem alguns princípios e se pôr a ideia em marcha e, no dia 10 de Junho desse mesmo ano, realizou-se então um grande jantar no Restaurante Chave d' Ouro, em que se comemorou, e pela primeira vez em Joanesburgo, o Dia de Portugal e se inaugurou também a Academia do Bacalhau de Joanesburgo, a que hoje se chama de Academia Mãe.

Foi seu primeiro presidente o Engº José Ataíde, que era a pessoa mais idosa daquele grupo e que costumava referir-se ao facto de ter sido escolhido como presidente com as seguintes palavras:
"Na Academia somos todos iguais, pelo que todos somos presidentes, mas como alguém tem que dirigir os almoços e tocar o badalo, é só nessa acepção que me considero presidente."

E por falar em badalo, instrumento que se entendeu dever ser usado para impôr alguma ordem nos almoços, ele foi feito (e oferecido à Academia) pela Bronzarte, de que eram sócios os compadres Paulo dos Santos, Latino Carocho e também Guy Ferraz, que foram dos primeiros a aderir ao movimento da Academia.

Foi também a Bronzarte que ofereceu os badalos a outras Academias que se foram criando e se não favoreceu todas elas foi porque, entretanto, a firma acabou por encerrar a sua actividade.

O "Gavião de Penacho" foi importado do "Orfeão Universitário do Porto", organismo de que fez parte o Doutor Durval Marques durante 5 anos da sua vida académica, e que era cantado pelos estudantes quando, em grupo, davam azo à sua alegria, à sua boa disposição e até a uma certa dose de alguma salutar irreverência.

É de salientar que, quando o "Orfeão Universitário do Porto", em 1969, fez a sua primeira digressão pela África do Sul, os estudantes sentiram-se como que em casa, pois podiam cantar juntamente connosco o seu "Gavião de Penacho".

Os almoços começaram por ter lugar às sextas-feiras porque, sendo a maior parte dos portugueses católicos, esse dia era considerado como de jejum, dia em que se não devia portanto comer carne. Depois de alguns anos, mudaram-se esses almoços para as quintas-feiras, por ser o dia mais conveniente para a maioria dos compadres.

Escolheu-se o bacalhau como prato dos almoços, porque se pretendia estreitar e consolidar uma verdadeira e sã amizade entre todos os membros e o bacalhau, conhecido como "fiel amigo", era o símbolo dessa amizade.

Além do bacalhau, o vinho era português, o azeite também e até o pão (papo-seco) era confeccionado por padaria portuguesa.

Com o nome de Academia pretendeu dar-se-lhe um significado de mais uma Tertúlia que congregava pessoas ligadas por uma sólida amizade e que pretendiam valorizar-se e obter o merecido reconhecimento no país de acolhimento e não qualquer conecção com habilitações académicas, que os seus membros pudessem ou não possuir..

De resto, como na Academia os títulos, as posições sociais e de negócios não tinham cabimento nas salas das nossas reuniões, uma tal ligação com habilitações escolares estaria totalmente fora de qualquer contexto.

Decidiu-se pelo nome de Compadre, porque é assim que se chama ao melhor amigo que se escolhe para ser padrinho dos nossos filhos e na Academia o denominador comum de união era exactamente a amizade.

Como se referiu, o jantar de inauguração da Academia de Joanesburgo foi realizado no restaurante "Chave d' Ouro", tendo-se mesmo feito, posteriormente, importantes obras de adaptação do primeiro andar do prédio a expensas da Academia (o restaurante funcionava no segundo andar) e que foi, durante muitos anos, o local de convívio. Essas obras custaram à tertúlia cerca de R 5 000-00 (o que era muito dinheiro para a altura), foram executadas pelo compadre António Vendeiro e supervisionadas pelo compadre António Chaves Pinto.

Depois do "Chave d' Ouro", passaram-se a usar outros restaurantes como lugar dos nossos almoços semanais e por esta ordem: "Lisboa Antiga", "Casa Portuguesa" (por pouco tempo) "New Library", "Samba","White House", "Salisbury Hotel" e "Adega do Monge", aonde ainda hoje nos reunimos.

Segundo os "Princípios e Objectivos da Academia", que foram feitos para a Academia Mãe e que foram depois adoptados por todas as outras Tertúlias que sucessivamente se foram criando, a definição de Academia do Bacalhau era a seguinte:

" Tertúlia de amigos, que se reunem sem finalidades políticas, religiosas ou comerciais."

Na Academia Mãe sempre se praticou assistência, começando-se logo nos seus primeiros tempos de existência, e o dinheiro, quando necessário, aparecia em cima da mesa dos almoços, contribuindo cada um com o que quizesse e pudesse.

Ninguém olhava ao que o vizinho dava e o importante era conseguir-se o montante necessário para que, por exemplo, pudesse ser feita a necessária intervenção cirúrgica, se ajudasse uma família carente ou se acudisse a qualquer outro caso imperioso.

Entretanto, já com outras Academias a funcionar, começaram a surgir imensos casos a necessitar de assistência, principalmente de compatriotas provenientes de Moçambique e, um pouco mais tarde de Angola, o que originou a que, no IV Congresso das Academias do Bacalhau, realizado na Suazilândia, de 8 a 10 de Novembro de 1974, fosse tomada a decisão de se criar a Sociedade Portuguesa de Beneficência da África do Sul e de uma Federação Portuguesa, que pudesse vir a juntar todas as organizações da nossa comunidade.

Houve uma comissão de compadres encarregada de formalizar a legalização destas instituições e, com a ajuda graciosa do advogado Raymond Joffe, conseguiu-se que o "Departamento de Welfare & Pensions", de Pretória, oficializasse a abertura da Sociedade Portuguesa de Beneficência da África do Sul, a quem foi atribuido um número (W.O. Number) para que se pudessem angariar donativos e que podia ser utilizado em todo o território do país. Simultâneamente foi ainda criada a Federação Portuguesa da África do Sul, que pouca actividade veio a desempenhar, pela dificuldade que se encontrou em se poderem juntar todas as colectividades portuguesas nessa Federação.

A S.P.B. começou a funcionar em fins de 1975, mas o seu registo oficial só foi feito em 13/03/79.

A sua primeira sede ficou instalada mesmo ao lado do Restaurante Chave d'Ouro, onde se reunia a Academia Mãe, e localizava-se no 1.º Andar do Camperdown Building, No. 99, na esquina da Polly & Kerk Streets, em Joanesburgo.

A Sociedade está agora a funcionar em: 219 - 3rd Street, Albertskroon, Joanesburgo 2195, onde se situa também o Lar de Santa Isabel, que constitui uma admirável obra de acolhimento para os portugueses da terceira idade e que é considerado um dos melhores lares de idosos deste país.

Daqui nasceu o movimento das Academias do Bacalhau, que é hoje constituido por cerca de 52 Tertúlias espalhadas pelos quatro cantos do mundo e todas elas ligadas pelos mesmos princípios de amizade e solidariedade.

Todas elas apoiam uma ou mais obras de beneficência. Em Maputo, por exemplo, apoiam a Casa do Gaiato, ajudando a construir o edifício das oficinas e também a capela; em Luanda, dão ajuda a um lar da terceira idade e a uma instituição dos meninos da rua; em Caracas, estão a construir uma casa para idosos, onde se irão gastar cerca de 5 milhões de dólares; em Lisboa apoiam uma organização de drogados em fase terminal; etc., etc.

Realizam-se todos os anos Congressos das Academias do Bacalhau, em sistema rotativo e por ordem de antiguidade das tertúlias.